terça-feira, 2 de julho de 2013

Corpo de Cristo

       
Texto retirado do livro Decepcionado com Deus, de Philip Yancey.


Em um corpo, Cristo conciliou os dois mundos, unindo finalmente espírito e matéria, unificando a criação de uma forma que não se via desde o Éden. O teólogo Jürgen Moltmann assim o expressa, numa sentença que merece muita reflexão: "A corporificação é o propósito de todas as obras de Deus." E é assim que o apóstolo Paulo o expressa: "Ele é a cabeça do corpo, da igreja... porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude, e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus."

Quando aquele Verbo-feito-carne ascendeu, deixou para trás sua Presença na forma de seu corpo, a igreja. Nossa bondade torna-se literalmente a bondade de Deus ("Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes"). Nosso sofrimento torna-se, no dizer de Paulo, "a comunhão dos seus sofrimentos". Nossas ações tornam-se suas ações ("Quem vos recebe, a mim me recebe"). O que acontece a nós, acontece a ele ("Saulo, Saulo, por que me persegues?"). Os dois mundos, visível e invisível, fundem-se em Cristo; e nós, como Paulo sempre insistia, estamos mui literalmente "em Cristo". A incorporação é o propósito de toda obra de Deus, o objetivo de toda a criação.
            
Olhando a partir de baixo, nossa tendência é pensarmos em milagres como uma invasão, uma erupção no mundo natural com uma força espetacular, e nós ansiamos por tais sinais. Mas a partir de cima, do ponto de vista de Deus, o milagre real é o da transposição; que corpos humanos possam tornar-se vasos cheios do Espírito, que atos humanos corriqueiros de caridade e bondade possam tornar-se nada menos do que a encarnação de Deus na terra.

Para finalizar a analogia, não preciso procurar além das palavras de Paulo, pois a imagem que ele apresenta para descrever o papel de Cristo no mundo de hoje é a mesma que empreguei para ilustrar a transposição. Jesus Cristo, disse Paulo, agora atua como a cabeça do corpo. Sabemos como uma cabeça humana realiza sua vontade: traduzindo, num sentido descendente, ordens que as mãos e os olhos e a boca possam entender. Um corpo saudável é aquele que segue a vontade da cabeça. Dessa mesma maneira, o Cristo ressurreto realiza sua vontade através de nós, os membros de seu corpo.


Deus está calado? Respondo a essa pergunta com uma outra: A igreja está calada? Nós somos seus porta-vozes, as cordas vocais que ele designou neste planeta. Um plano de uma transposição assim chocante garante que a mensagem de Deus algumas vezes pareça confusa ou incoerente; garante que Deus algumas vezes pareça calado. Mas a incorporação era o seu objetivo, e, à luz disso, o Dia de Pentecostes torna-se uma metáfora perfeita: a voz de Deus na terra, falando através de seres humanos em formas que até eles não conseguiam compreender.

Nenhum comentário:

Postar um comentário